domingo, 23 de março de 2008

Eléments pour une étude /2





























"...estendo todo o meu gesto no branco marfim da pele.
Num só suspiro, mastigo, condenso, as horas de imaculado prazer, deste sonho, deste conto que se mostra pela noite.
Parecem flores os lábios com os quais o desejo enfeita o seu leito de morte, e renasce logo de seguida ainda mais forte, afirmando-se como interminável, inesgotável.
É entre as palavras que ouço, e que fecho na minha memoria, que desenho pensamentos alados nos confins da minha mente.
O cheiro da chuva faz-se sentir.
O som das gotas que explodem contra o chão surge como um eterno abraço, apaziguador, tal qual uma melodia divina nunca outrora ouvida o proporcionaria.
Num olhar, não investigo limites, não procuro metas.
Tal é a sua profundidade, que é inconveniente achar tal coisa, que é de todo ridículo procurar o seu fim, assinalado normalmente por um amedrontado desviar.
Mergulho no sono até ao firmamento ganhar cor, até este se deixar morder pelos raios solares, abraçado por uma nudez sem pudor, por uma nudez de sentimentos, actos, e confissões".

in "Eléments pour une étude"

sexta-feira, 7 de março de 2008

...







Amar sem exclusões, sem olhar á razão.
Não sinto medo, sinto antes satisfação.
Haverá algo mais puro, mais pleno, do que não contrariar o que sentimos?
É dessa forma que encontro agora a felicidade que julguei adormecida.
Amo, não amo cegamente, mas antes com o coração nas mãos, mostrando-o sem preconceito.
Mostrando como bate, como se contorce de alegria.
Amar...
Sem exclusões...
Sem olhar á razão...
Poder olhar para o céu sem me sentir sozinho.

Liberdade/ Confiança / medo



























"O que nos faz realmente sentir que somos livres?
Há quem se gabe da sua liberdade.
Há quem goste de dizer que são livres de fazer o que lhes apetece, de poder escolher o que mais lhes convém.
Mas será a liberdade apenas uma questão de poder de escolha?
Há indivíduos que não gostam de se sentir amarrados a nada.
Mas não serão estas pessoas na realidade egoístas?
Suponho que sim...
Os homens na verdade nunca são livres.
A liberdade está absolutamente dependente e limitada por regras.
Não é ao sermos contra o sistema das coisas, da sociedade, que iremos nos sentir mais próximos da liberdade, mas sim ao impedirmos que o sistema nos roube tal direito.
O homem está condenado a ser livre, e a sentir se responsável por tudo aquilo que faz, e da mesma forma será julgado no mundo em que foi lançado pelas suas acções e escolhas.
Se o homem é livre terá que assumir todas as consequências das suas acções e omissões".




"O que nos faz confiar em alguém?
Confiança é deixarmos simplesmente de analisar se alguma coisa é verdadeira ou não?
Confiar em alguém é por vezes um acto de amizade ou de amor.
Quanto mais descobrimos de alguém, mais motivos teremos, ou não, para confiar nessa pessoa.
Porém, há quem tenha dito (
Arthur Schopenhauer) que a confiança em alguém é constituída de três coisas:
Preguiça, egoísmo e vaidade.
Preguiça quando, para não investigar, vigiar e agir, preferimos confiar em outrem;
Egoísmo quando a necessidade de falar dos nossos assuntos, problemas, nos leva a confidenciar-lhes algo;
Vaidade quando alguma coisa nos torna orgulhosos.
Na realidade, não será mais conveniente confiarmos em nos mesmos apenas?
Não é de todo negativo desconfiarmos das pessoas,
nunca deveríamos irritar-nos com a desconfiança, pois nela reside um elogio à probidade.
É a admissão da sua raridade que faz com que entre no rol das coisas de cuja existência duvidamos".




"Há sempre razões para sentir medo quando se ama.
O que é que nos assusta mais?
O receio de deixarmos de ser amados, ou o facto de correr riscos de deixar de amar alguém, magoando tal pessoa?
Creio que ambas as possibilidades são sempre reconhecidas e tomadas em consideração.
Quando é que paramos de amar ou de estimar alguém?
O que será que nos provoca desinteresse?
Desilusões?
Onde está a confiança nesses momentos, quando é ela que nos faz antecipar actos e palavras da pessoa com quem partilhamos algo?
Nunca nos conhecemos suficientemente bem.
Contamos sempre com alguém para nos mostrar como realmente somos.
E por vezes acabamos por ver características em nos que nunca julgamos possuir.
O medo por vezes acaba por ser de nos mesmos e não das pessoas ou das situações em que nos envolvemos.
O medo não é mais senão uma reacção natural humana, uma reacção de protecção.
Mas como poderemos nós nos proteger de nós mesmos?
Simplesmente não nos envolvendo com ninguém?
Que outros problemas nos traria tal proibição?
Não me parece que o mais certo seja não nos envolvermos.
Na verdade, se os medos existem, existe também a necessidade de os ultrapassar.
O homem nunca ao longo da historia se mostrou amedrontado por aquilo que não conhecia.
A necessidade de vencer os medos é também uma característica puramente humana".

"Evitar a felicidade com medo que ela acabe é o melhor meio de ser infeliz. Coragem é resistência ao medo, domínio do medo, e não ausência do medo". Mark Twain





terça-feira, 4 de março de 2008

Há momentos assim


















Porque a cidade não parece a mesma sem ti...

A tua ausência doi me.
Queria te aqui.

O vento frio esbofeteia me a cara.
O sem tecto fala enquanto dorme.
Olho para tal figura...
As pessoas estão em casa, não na rua.
Os sem tecto não são pessoas.
Os sem tecto são fantasmas.
Fracassos de uma vida.
Eu estou na rua.
Repleto de vida.

Contorno as ruas...
Os olhos estão cansados.
Trincam com rasgados dentes,
tudo o que lhes surge.
As ruas parecem despidas.
Porém acolhedoras...
O murmúrio dos candeeiros quebra o silêncio.
Eu estou em silêncio.
O meu pensamento não.
Os meus pensamentos estão longe.
Eu estou longe de casa.
Mas muito perto dos meus pensamentos.
Os meus pensamentos precisam de mim.
Eu preciso de ter pensamentos.
Eu tenho pensamentos...
Toda a gente os tem.
Eu tenho te a ti.
Eu tenho te em mim.
No meu pensamento.