terça-feira, 21 de julho de 2009

...





















Quero escrever, mas a mão treme.
Não encontro sonolência em mim.
Apenas me pesa o corpo de tantas horas sem descansar.
Olho para o relógio que assinala as 05:42,
e a caneta faz magia.
Sangra sobre o imaculado papel.
A lusco fusco procura escrever.
Escrever palavras que me levam até longe...
Bem longe além mar.
Ai se eu soubesse fazer poesia,
o que não sofria eu...
Faz falta saber fazer poesia.
Poesia triste...
Faz falta saber viver a poesia.
Poesia triste...
Mas de que falo eu?
Já não basta contar os dias?
Viver os dias nesta latência de fazer da saudade algo que não me pode magoar?
Magoa, la isso magoa, e não adianta jogar com ela ao faz de conta.
Gostava que a mão parasse de tremer.
Gostava que o corpo parasse de doer.
Gostava de poder dormir.
Mas por vezes perco me neste desalento.
Quando este teima em subsistir...




terça-feira, 14 de julho de 2009

Estudos: personalidades e momentos/ Banco de jardim















Sento-me mais uma vez.
O local: O de sempre.
A razão: A mais distante e fria.

Não sou mais do aquele que olha para trás no tempo e que sente.
Não sou mais do que aquele que lembra.
Não sou mais do que aquele que olha para toda a magia corrida dos momentos que passei, dos momentos que roubei, á triste vida a sua fantasia.
Nunca sonhei, nunca fiz mais do que fazer de conta que sonhava.
Não poderia almejar o que não tinha lugar para mim e outras pessoas, visto que por vezes o espaço, de tão limitado que era, nos obrigaria a apertar.
Sinto uma vaidade em mim por já ter profanado uma ou duas vidas.
Sinto um abandono em mim por as ter vivido tão depressa...
É essa a sensação que fica.
Viver um amor tão curto.
Até o amor é descartável quem diria...
A aventura do amor traz consigo algumas certezas:
Interesse, descoberta, fascínio, regozijo, aborrecimento, e desinteresse.
Não há como escapar deste caminho descendente.
Não se ama para sempre.
Nunca tomei outro caminho se bem me lembro.
Estou velho.
Velho porque pesa em mim todo o fado de mil e uma aventuras, todo o fado de caminhar descalço e terminar sozinho.
Mas julguei me certo uma vez!
Uma vez mais certo do fracasso isso sim...
Quão ignóbil não me tornei eu...
Por não saber amar, por não saber dar parte de mim!
Resta-me contar ao silencio, e até por vezes aos desconhecidos transeuntes, estas minhas historias de consternaçao.
Fica o desalento vivo no rosto de quem as ouve, rola a lágrima pela pena voltada para mim.
Não nasci para saber dar, mesmo quando sentia amor dentro de mim.
Quando olho á minha volta, apenas vejo lugares de mim nas pessoas com quem me cruzo, nada mais do que um lugar inóspito e fechado.
Quem o fechou fui eu.
Quem se fechou fui eu.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Estudos: Personalidades e momentos.


















Queres-me?
Aqui me tens.
Disse-te eu como quem se encontra distante do flagelo que nunca antes poderia descortinar, senão agora.
Já ecoava a noite entre castos lençóis, agora mordidos, agora rasgados, por corpos bem feitos de nudez.
Que mais podia eu querer, senão roubar a tua atenção para mim?
Concentrar toda a tua atenção apenas num ponto, numa alínea, em que inocentemente te pudesse dizer, o quanto faz sentido a tua existência em mim.
Disse-o, disse-o a bom som e firme voz.
Mas nada fez levantar a poeira que nos circundava, a pesada consternação que por vezes sinto em ti, que por vezes leio em ti...
Disseste-me:

(...)

Nada me disseste tu!
Nada em ti se moveu!
Não foi o ar que se quebrou com tal silencio, não foram as nuvens que se pintaram de escuro cinzento, não foi o tempo que parou, mas sim eu.
Fui eu quem sucumbiu à ausência de graça, à ausência de texto, à pesada gravidade que pairava no teu quarto e que me esmagava contra o chão.
Não quero que me idolatres, não quero que faças Carnaval quando não vejo em ti multidão, pensei eu...
Simplesmente quero que me desejes, que mostres que as palavras podem ganhar sentido e dimensão, que me queres e que o digas, porque dizer não é exigir.
Senti-me pequeno, como alias sempre me sinto, e mais pequeno ainda comparado a minha reflexão que parecia não mais terminar.
Tortura.
Uma ode aos portões do inferno.
Por vezes sinto-me um estorvo, outras vezes uma borbulha que não paras de coçar.
Quero confiar no teu gesto, mas mais ainda no valor que reconheces em mim.
Não quero mais me sentir um estranho.
Sabes que podes largar muito mais de ti nas minhas mãos, do que escavar cegos buracos no silencio.
Confia, simplesmente confia.
Fumei um cigarro.
Desliguei o candeeiro.
Abracei o teu abraço.
Dei lugar ao leve sono.
E tudo em redor deu lugar ao silencio.
Ao meu silencio.
Ao "nosso" silencio.