segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ocupação vs. Distracção - O olhar vazio sobre a matéria.




















Ocupação pressupõe sempre ocupar um espaço e um tempo.
Quando nos ocupamos de alguma coisa a pluralidade de possibilidades entre as variantes tempo e espaço são infinitas. Podemos nos ocupar dez minutos, uma hora, uma semana, um ano ou até mais tempo. Podemos nos ocupar de uma pessoa, de um objecto, de uma matéria, de uma criação, etc.
O que interessa aqui a meu ver, é compreender a tomada de posse, o estar na posse de, o preencher, o encher, o estar, a apropriação do tempo e do espaço que sempre ou quase sempre nos surge num segundo plano em consciência.
Não quero com isto dizer que não traçamos direcções, objectivos nas nossas ocupações com plena consciência deles. Não se trata disso.
O que na realidade dou a pensar é no facto de nunca ou quase nunca pensarmos á partida, na qualidade de se estar enquanto ocupados. Parece que em nossa consciência não habitamos absolutamente nada, quando no fundo habitamos.
Creio que passamos imenso tempo negligenciando a nossa existência presente nas coisas. Isto se entendermos que a existência é (pelo menos por vezes) um conjunto ou propriedade de objectos, uma propriedade primordial como é a propriedade de ser alto ou bonito.
No entanto a verdade do indivíduo existente é, e será sempre um paradoxo. A verdade acerca da matéria que compõe o mundo nunca poderá ser objectiva, universalmente válida, será sempre uma construção subjectiva com aspiração à ideia de objectividade e universalidade encarregues de nos afastar e salvar da loucura.
Portanto ao praticarmos uma ocupação, habitamos sempre um lugar, existimos dentro de uma grelha transparente de propriedades primordiais que constroem o mundo.
Mas o que de facto me interessa é a distracção. O poder da distracção, o movimento da distracção.
Como entendemos nós o que é em senso comum a distracção?
Apenas achamos distraídos aquele ou aqueles que manifestam falta de atenção perante algo ou alguém. Mas creio que a distracção possui mais valor do que á partida parece não ter, visto que a tomamos normalmente e erroneamente, como apenas uma "falta de".
Quando nos distraímos o movimento é tal que se inscreve no rosto. O olhar vazio que se agarra a nós nesse preciso momento possui, a meu ver, mais valor que o olhar objectivo da racional atenção. A distracção não é apenas um acto. É uma viagem, uma visão, um "não lugar" de tempo e espaço na materialidade da realidade dada pela nossa consciência objectiva. Um mundo dentro de um mundo...
Quando nos distraímos o nosso espírito concentra-se!
Abdicamos da consciência do cogito Cartesiano, da consciência do "eu".
O plano passa a ser o da abstracção, onde viajamos no tempo e no espaço sem limites objectivos.
Não somos mais quem tem o controlo, somos antes a carruagem desgovernada do pensamento sem o "eu". O "eu" é pura consciência temporal e espacial.
A distracção liberta-nos tanto da objectividade como da subjectividade acerca do mundo. Nela somos tudo, nela somos o nada, nela não somos! Não existimos! Esquecemo-nos de nós mesmos, vestimos o nosso espírito e mergulhamos em queda livre nesse fragmento, nessa dimensão, pedaço adormecido de mistério e contemplação.