A que não basta ter cinco sentidos para lhe perceber toda a beleza. A que lança a angustia ao mundo, ao romper o cordão umbilical do ser que carrega e protege, assegurando assim a primeira separação do ser humano, assinalando a vertigem do nascimento. Ser que preserva inconscientemente a infância, pelo simples facto de sempre esperar por algo, algo novo, que a faça rasgar o estado de vigília, de realidade, e alcançar o mundo dos sonhos que lhe preenche a alma e mata tão desmesurada curiosidade. Invencível pelas lágrimas que traz aos ombros, pela facilidade com que as derrete. Flor divina num emaranhado de ternura... De todas as luzes presentes no mundo, a de maior brilho. Abaixo do indiferente azul do céu, a mulher é um consolo.
"Pedaços de céu são elas. Como licor, desejo, sabor...belas. As mulheres. São tela, são sonho, são pastilha elastica de mil sabores. São perfume, São perfume de mil e um odores. As mulheres."
"Dou a mão com sede de infinito ao que reluz de madrugada na terra dos sonhos. A chuva erguesse e afirmasse com repentina saudade, chorando cristais de açúcar que beijam os meus lábios. Caminho sem olhar para trás, levando comigo uma mão carregada de espinhos . Caminho sem pensar no passado, sem pensar no reflexo que uma vez vi quando me debrucei sobre o lago no jardim. O meu enfadonho reflexo. Estranho agora este tempo, a ausência de sons e imagens. As ruas despidas de gente, as estradas, as passagens. E esta dor que se promove, que não é vendida a ninguém. Parece dada com prazer, a quem espaço para ela tem. Os espinhos que tenho comigo, como os guardo, como os aguento... São saudades, são saudades.
Quando dói, dói por ser ferida. É dor suave, mas tão ou mais funesta que um amor fulminante. É o exemplo de que podemos atribuir ao coração uma mente, uma consciência. Sendo a saudade nada mais senão a memoria do coração. A saudade não se deve á distancia, mas sim ao quebrar de uma parte de nos, á ausência de uma parte de nos. A distância apesar de impedir que se veja, não impede que se ame efectivamente. Não se questiona o porquê de sentirmos saudade, alias, tal é a sensação que nunca temos duvidas que ela existe, que a estamos a sentir. A saudade imortaliza acontecimentos, é maquina do tempo que arrasta o nosso pensamento até á felicidade de um momento. É doença com um único antídoto, sendo esse antídoto apenas um meio de a tratar, mas não de a curar.