terça-feira, 31 de julho de 2012

Considerações Sobre A Amizade

























Pensei que com o tempo,  com a medida que o tempo arrasta consigo, as amizades se tornassem sólidas e reluzentes como o ouro.
Porém, o que é uma pedra de ouro em perfeita escuridão? Se não há luz como podemos ver o seu brilho?
Venho a constatar que tenho vindo a pensar demasiado e de forma descrente acerca da amizade...
Confesso que tenho plena noção de como posso chocar algumas pessoas quando oriento o meu discurso acerca da amizade relacionando acções com concepções pessoais verificando a sua verdadeira natureza.
Creio no entanto que o choque está na consciência de cada um e não no meu discurso.
Só não vê quem não quer ver.
Só fica na caverna quem quer ficar.
É comum achar que só não tem amigos quem tem mau feitio...É comum achar que quem pensa o mundo de forma negativa não alcança grandes feitos.
Pois a minha opinião é precisamente a de que ao continuarmos a achar que são as coisas comuns que devem continuar a fazer o mundo girar estamos inevitávelmente a contribuir para mais anos e anos de extrema ignorância.
Anos perdidos de consciência adulterada, standerizada!
Com isto pretendo demonstrar de forma clara que só caminha de olhos fechados e de ouvidos tapados quem quer, ou quem simplesmente não tem faculdade para discernir.
Porque é que penso assim? Porque como se costuma dizer: "Já engoli muitos sapos!".
E fartei-me de os engolir.
Até que um dia deixei de ver o mundo de forma bidimensional e a cores, acabando obrigado a interpretar fenómenos de forma linear, subtraindo todo o excesso ilusório que normalmente nos fascina e que nos enche os olhos e a mente de merda.
Pura merda...
Porque é que temos que ser mais fortes do que as evidências? Porque é que na minha forma de ver as evidências a expressão "Tens que ser mais forte do que as evidências" é automaticamente substituida pela expressão:
"Queres continuar a ser ignorante mesmo perante as evidências ?"
Porque é que nos temos de conformar e sorrir com algo ou alguém que nos prejudica, que nos mostra ódio, inveja ou que nos trai?
Nenhuma amizade com estas caracteristicas me parece saudável...
Constato que não é saudável.
Convenhamos, grande parte das amizades, senão todas, por mais sinceras e ingénuas que sejam, partilham exactamente a mesma razão primitiva : "O interesse".
Não há amizade sem interesse, o interesse faz de um conhecido teu amigo.
E acreditem, é muito fácil confundir interesse com outra coisa, da mesma forma que é fácil confundir amizade com outro sentimento qualquer.
Ao interesse se junta, a meu ver, algo suficientemente importante quando se fala desta relação: "A capacidade de agradar".
Quem escolhemos como nosso amigo tem a capacidade de nos agradar, sendo que o nosso interesse na amizade é o de ser agradado pelo nosso amigo.
Parece evidente.
Eis então que um dia chego á crua verdade deste raciocinio quando atravesso um momento pessoal de ruína.
O individuo que escolhemos como amigo para nos agradar, ou o individuo que nos escolheu para ser agradado deixará de nos agradar no dia em que não servir para mais nada.
Esta é a pura realidade.
Este argumento é facilmente constatado em vários momentos da história social do homem.
O homem parece possuir constelações de amigos quando rodeado de grandes fortunas, mas quando a ruína resolve aparecer os amigos esquivam-se dos lugares onde são postos à prova. É tão simples quanto isto.
Já dizia Séneca acerca deste tema que "o interesse faz de sicrano nosso amigo e que o interesse fará com que ele deixe de sê-lo"
Parece-me claro.
Mas porque suscita então em mim outra questão?
A mais fulcral de todas as possiveis questões que podia formular acerca da amizade?

Qual é o objectivo em fazer amigos?
Se o acto de criar amizade é algo tão inconscientemente ou conscientemente visceral , negro, narcisista, egoísta?
Creio que todos nós temos medo de existir sozinhos...Todos nós parecemos possuir pavor da solidão.
Não deixa de ser curioso, visto que com este medo somos capazes de ser tão egoístas.
Como é que algo a que chamamos "Amizade", que de forma comum é descrito como um sentimento bonito, positivo, pode ter como génese um oposto tão escuro, tão desprezável?
De facto é interessante como facilmente o homem acaba magoado com uma amizade, quando no fundo é apenas puro objecto das suas inquietações, fruto directo da sua natureza.

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