terça-feira, 9 de março de 2010

O exercício de criar/ sonhar






















Quebrei a membrana espessa que liga os meus tomates ao mundo.
Sou maquina lírica, homérica, para além de mero organismo composto de elevações, que dão fundamento ao mundo, aos sonhos, e as formas.
É preciso o entendimento de toda a criação a que me disponho, mas de igual forma é necessário abarcar com sufoco, o trabalho ao qual me entrego.
Sou dono do meu trabalho.
Abano a varinha de
condão, e ergue se perante mim o ensaio, a melodia, o tesão da criação.
É como se não me conseguisse desprender, como se fosse retido por uma força que me parece inexplicável.
A força bruta como resultado da minha natureza.
A arte, a metamorfose, surge no exercício ao qual me obrigo.
Ao predispor o sentido de liberdade e diversidade em mim.
Sem isso envelheceria...










sábado, 16 de janeiro de 2010

Ciúme




















Bebo mais um pouco desta cicuta, e deixo me embalar sobre o teu colo.
Enquanto isso não deixo partir a raiva, o ódio, de quem chega até mim através de ti.
O ódio de quem tenta profanar algo tão belo.
Algo tão nosso...
Vejo quem te encanta, passar e chegar a ti, entre o negro entardecer de mim, entre o ponto cego dos meus olhos.
Sou fraco, fraco em abri-los.
Quando os podia simplesmente fechar, impedindo me assim de ver o que por mim não quer ser visto.
Se acho o ciúme, é porque és digna de o merecer de mim!
Fosse o amor existir sem o ciúme...
Fosse eu sentir ciúmes se não te amasse...
Quando esse ciúme só me deixa ainda mais perto do prazer...
Isto porque não consigo imaginar o oposto do que temo, e deixo me padecer da dor ampliada que me faço receber, por saber
e sofrer pelo ampliado prazer de que me sinto excluído.
Não fossem os prazeres do amor, males que se fazem desejar...
Sinto o ciúme é verdade...
Ao amor não sei mentir.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Reflexões: Do acto á escrita.





















"Há vários momentos na vida, creio, em que tudo é posto em causa.
Tudo o que nos pertence, tudo o que ambicionamos, tudo, ou quase tudo o que nos diz respeito.
Serve a caneta, o lápis, o objecto, o meio riscador, de veiculo a esta mesma reflexão.
Escrever é muito fácil, catapultar a reflexão para o papel é bem mais difícil.
O papel deixa de ser papel, e passa assim a reflexo da alma, a prolongamento substancial das nossas preocupações e dramas, torna se na epítase de toda a dramaturgia.
É através do escritor, que por sua vez, todo o mundo escreve.
Podemos concluir assim que do gesto á escrita não existe solidão.
Não podemos catalogar este processo como um acto isolado, necessariamente solitário, mas antes como o exercício de carregar a humanidade ás costas através da expressão".

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

8 de Outubro de 2009 / 04:28

























Eis que de momento me encontro vestido de tristeza.
Possuo corpo de homem, mas recuso me a aceitar o que pede o coração.
Não lamento, não choro, não consigo.
Nesta hora do nada, pesada, sombria, sufoco, perco a respiração.
Não sou nada.
Nem pedaço de mau caminho...
Quem disse que alguma vez o fui?
Esqueci me da violência sedutora de conhecer com olhos de criança os dias, de transpor a idade quando tomo consciência dela.
Foi isso, isso mesmo que me deixou assim!
Não sei o que será de mim nos próximos tempos...
Não sei o que pensarão de mim...
Não sei o que sentirão por mim sequer.
Perco a liberdade, perco a alma.
Recebo a guerra, ganho o medo.
Não quero perder nada.
Quero ganhar tudo...
Quero permanecer intocável á vida e as suas leis de ferro.
Quero simplesmente continuar a ser eu.
Não quero morrer mais uma vez e arrastar comigo quem me ama.
Quero ser homem com um coração de deus, e coragem de senhor da guerra!
Quero!
Vou!
Serei!
Nesta hora do nada, pesada, sombria, respiro fundo, ganho novo alento.




quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Reflexões: Relação entre Separação/Distancia/Saudade


























A separação traz consigo a certeza de que o amor existe, e de que este jamais acabará.
Não há como fazer escassear este sentimento no mundo.
O amor nunca acabará.
A distancia aliada a este nunca terminará.
Nem tão pouco as rugas que este nos deixa durante a vida.
Está pensado, escrito, provado, verificado.
O amor que alguém nos oferece, por ser tão inesperado e tão pouco merecido, não dará espaço para espanto que
no-lo retirem o mais cedo possível.
Tudo parece ganhar asas ou bater a porta, definitiva ou temporariamente, quando nos sentimos suficientemente adequados.
Nunca possuímos inteiramente alguém, nunca o chegamos a fazer.
Recriamos o ser amado, e a única forma que encontramos de o prender a nos, é através da arte.
Por isso escrevo.
De mãos vazias, mas de memoria e pensamento em riste!
Se o ser amado está presente, mais difícil será preservar a sua imagem de presença, pois esta irá se sobrepor e enfraquecer a imagem que nos importa conservar dela.
Ao conservar a imagem de presença, com a distancia é lhe atribuída maior força, e por sua vez maior frustração, e desalento.
De tudo isto, conseguimos reconhecer facilmente que vale sempre muito mais, que o ser que amamos parta, para nos dar conta que conseguimos chorá-lo, lembrá-lo.
Não é apenas o ser amado que nos consta em falta, mas também nós mesmos.
É criada uma ausência própria, um não sentir em nos sentirmos nós.
Ao entregar parte de nós a outra parte, ao sermos parte de outra parte, é natural que ao não ser parte, não estejamos entregues a nós.
Tal como nos vemos reconhecidos, tal como nos vemos recriados.
Há quem diga que a distancia apaga o amor.
Há quem ache totalmente o contrario.
As duvidas passam e passarão sempre pelo mesmo:
"Será que ainda sente o mesmo por mim?"
"Será que ainda me encontro na sua memoria?"
Perguntas habituais, e oficialmente comuns entre apaixonados...
A saudade parece interminavél quando se gosta.
Não só a saudade de um passado, mas também de um futuro.
Já notaram que se pode igualmente sentir saudade de um futuro?
Sentir saudades de situações, de repetidas, ou quem sabe, de novas sensações, mas tudo isto pensando num tempo futuro.
A dor da ausência agradece á distancia, mas o amor cresce agradecendo muito mais a estas.







terça-feira, 21 de julho de 2009

...





















Quero escrever, mas a mão treme.
Não encontro sonolência em mim.
Apenas me pesa o corpo de tantas horas sem descansar.
Olho para o relógio que assinala as 05:42,
e a caneta faz magia.
Sangra sobre o imaculado papel.
A lusco fusco procura escrever.
Escrever palavras que me levam até longe...
Bem longe além mar.
Ai se eu soubesse fazer poesia,
o que não sofria eu...
Faz falta saber fazer poesia.
Poesia triste...
Faz falta saber viver a poesia.
Poesia triste...
Mas de que falo eu?
Já não basta contar os dias?
Viver os dias nesta latência de fazer da saudade algo que não me pode magoar?
Magoa, la isso magoa, e não adianta jogar com ela ao faz de conta.
Gostava que a mão parasse de tremer.
Gostava que o corpo parasse de doer.
Gostava de poder dormir.
Mas por vezes perco me neste desalento.
Quando este teima em subsistir...




terça-feira, 14 de julho de 2009

Estudos: personalidades e momentos/ Banco de jardim















Sento-me mais uma vez.
O local: O de sempre.
A razão: A mais distante e fria.

Não sou mais do aquele que olha para trás no tempo e que sente.
Não sou mais do que aquele que lembra.
Não sou mais do que aquele que olha para toda a magia corrida dos momentos que passei, dos momentos que roubei, á triste vida a sua fantasia.
Nunca sonhei, nunca fiz mais do que fazer de conta que sonhava.
Não poderia almejar o que não tinha lugar para mim e outras pessoas, visto que por vezes o espaço, de tão limitado que era, nos obrigaria a apertar.
Sinto uma vaidade em mim por já ter profanado uma ou duas vidas.
Sinto um abandono em mim por as ter vivido tão depressa...
É essa a sensação que fica.
Viver um amor tão curto.
Até o amor é descartável quem diria...
A aventura do amor traz consigo algumas certezas:
Interesse, descoberta, fascínio, regozijo, aborrecimento, e desinteresse.
Não há como escapar deste caminho descendente.
Não se ama para sempre.
Nunca tomei outro caminho se bem me lembro.
Estou velho.
Velho porque pesa em mim todo o fado de mil e uma aventuras, todo o fado de caminhar descalço e terminar sozinho.
Mas julguei me certo uma vez!
Uma vez mais certo do fracasso isso sim...
Quão ignóbil não me tornei eu...
Por não saber amar, por não saber dar parte de mim!
Resta-me contar ao silencio, e até por vezes aos desconhecidos transeuntes, estas minhas historias de consternaçao.
Fica o desalento vivo no rosto de quem as ouve, rola a lágrima pela pena voltada para mim.
Não nasci para saber dar, mesmo quando sentia amor dentro de mim.
Quando olho á minha volta, apenas vejo lugares de mim nas pessoas com quem me cruzo, nada mais do que um lugar inóspito e fechado.
Quem o fechou fui eu.
Quem se fechou fui eu.